domingo, 30 de março de 2008

QUASE NADA

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De você sei quase nada
pra onde vai ou porque veio
nem mesmo sei
qual é a parte da tua estrada
no meu caminho
será um atalho
ou um desvio
um rio raso
um passo em falso
um prato fundo
pra toda fome
que há no mundo
noite alta que revele
o passeio pela pele
dia claro madrugada
de nós dois não sei mais nada
.
se tudo passa como se explica
o amor que fica nessa parada
amor que chega sem dar aviso
não é preciso saber mais nada
.
Angela Ruiz e Zeca Baleiro
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quinta-feira, 27 de março de 2008

MAS VENS

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como se todo o tempo já tivesse transcorrido
- porque tudo passa, se tocamos,
vens com o teu bafo, o te hálito, tua aura e teu roçar,
nessa tua onipresença, ora dentro, ora fora, tanto e todo em mim.
.
(a medida do tempo é bem mais clara na ausência.)
.
à margem de ti, de vejo rude, tosca, incompleta.
exulto de mim, naquilo que mais vejo.
e tão poucas são as coisas em que me percebo.
.
mas vens
como a dizer de um capricho urdido ardentemente,
um experimento, uma cilada,
aferindo-me com o teu esperômetro,
a medir o meu quâtum de permanência.
.
(tolo... como se coubesse a mim traçar novos rumos, trair-te, abandonar-te.)
.
adentrar no teus domínios - a mesma sensação, sempre renovada
é como se chegar em país estrangeiro e lá encontrar pedaço de seu.
tudo compreender, nas múltiplas linguagens que me trazes à mesa.
.
mágico momento, singular instante o desse encontro,
em ti eterno estrangeiro e eterno cúmplice, conheço-te cada rua.
cada rincão, qualquer espaço, à vista primeira
como se antigod fossem nossos abraços.
.
(e tão antigos são os nossos abraços.)
.
de verdade, não sei se eu que te esqueço, ou se és tu que me abandonas.
mas sei que todo o esquecimento e abandono são efêmeros.
sei também que deve ser assim
porque, às vezes me sufocas, não dás trégua, e eu, berm o sei,
por vezes faço igual.
.
( o que seria dos encontros sem a saudade?)
.
mas vens
e sabes como chegar.
em vão disfarças, porque é do teu querer que todo o disfarce seja em vão.
pões uma venda na face, à guisa de ocultar-se.
e ris
e ris porque sabes que a mesma venda te serve por bandana, inútilo cendal,
máscara fugaz em que estampas:
sou eu.
na linearidade em que te mostras, percebo-te em ondas.
nas ondulações, o teu linheiro percurso.
e caminho no teu segurop caminho.
.
e os antigos abraços se renovam.
.
e vens
.
e ficas.
.
Antoniel Campos
(com algumas adaptações para o feminino)
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segunda-feira, 24 de março de 2008

FASCINAÇÃO

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Entre os becos da tua vida
Descanso na tua esquina
somos dois distraídos
acumulados nas águas mornas
Porque me fascinas!
.
Numa organização aflita
Dispo-te entre ramos debotados
nas luzes de um sol traidor
Lentamente assustador
Aonde me fascinas!
.
Quero-te à beira de uma árvore
Num mar que não me pertence
A tua ausência desliza como pingos
de uma água visitada
Como me fascinas!
.
Vi-te respirar num rochedo vivo
O teu olhar resultou
num suspiro demorado
Estás nas metades abertas
Num esconderijo de necessidades
E me fascinas, liberdade.
.
Susana Pestana
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domingo, 23 de março de 2008

GUARDA-ME

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Estende a tua mão
Toca a minha que a procura
e devagar, com cuidado
para que nada se perca
Deposita um a um
Os teu sonhos
Os teus medos
Aqui
Na palma da minha mão.
Depois fecha-ma devagar
Cerra-me os dedos
Aperta-os
E diz:
Guarda-os
Guarda-me
Não me percas
Não nos perca meu amor.
.
Encandescente
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sexta-feira, 21 de março de 2008

MIL MULHERES

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Já fui tantas mulheres..
a que foi traída
a que traiu
a que foi esquecida
a que esqueceu
a menina
a safada
a insegura
a apaixonada...
.
Já fui tantas mulheres...
a sonhadora indefesa
a loba faminta e malvada..
a boa
a ma..
a escrava...
a que prendia os laços
a que soltava...resignada...
já fui tantas mulheres...
.
perdi carinho
pelo caminho..
amores sonhos
devagarzinho...
sobrevivente
vítima
indecente...
.
já fui tantas mulheres...
vesti a fantasia de alegria
no palco certo
a fala errada...
perdi bons homens
na caminhada..
Mas de todas as cenas
pelas quais passei
esta fé insistente
nunca matei
.
E das andanças e mudanças
que vier...eu me arrebento
me levanto,
arrumo o sapato quebrado
o cabelo assanhado
e sigo..
Pois sou mulher!!
.
Silvana Saboia
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terça-feira, 18 de março de 2008

EU BOMBOM, VOCÊ LICOR

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Suave delícia que escorre
No calor da minha boca quente
Perfeita harmonia entre o doce
e o entorpecente...
A cada mordida uma sensação
Combinação exata de sabor e emoção.
Eu, atraente sedução
Confecção proposital, ornamental
Na medida certa para seu paladar
Apurado, refinado, feroz esfomeado.
Deixo- te escorrer suavemente e saboreio com cuidado,
cada gota,
enquanto me embriago deste elixir mágico e irresistível,
produto do teu amor.
Do nosso amor...
Eu,
bombom
você,
licor!
.
Silvana Cervantes
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segunda-feira, 17 de março de 2008

DIZ-ME

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Diz-me tu como te quero.
Tu.
Que me calaste as palavras
Num beijo tão longo
Que foste a minha boca
Que foste respirar
Que foste a minha voz.
Diz-me tu como te desejo.
Tu.
Que me ardeste no corpo
Num abraço tão apertado
Que me tornaste e me deste
Um desejo maior
O desejo de nós.
Diz-me tu como te amo.
Tu.
Que me tomaste as palavras
Que me tornaste desejo
E a quem em silêncio chamo
E a quem ardendo amo.
Diz-me tu, meu amor.
Diz-me tu de nós.
.
Encandescente
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sábado, 15 de março de 2008

QUE ME VENHA ESSE HOMEM

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Que me venha esse homem
depois de alguma chuva
que me prenda de tarde
em sua teia de veludo.
que me fira com os olhos
e me penetre em tudo.
.
Que me venha esse homem
de músculos exatos
com um desejo agreste
com um cheiro de mato
que me prenda de noite
em sua rede de braços
que me perca em seus fios
de algas e sargaços.
.
Que me venha com força
com gosto de desbravar
que me faça de mata
pra percorrer devagar
que me faça de rio
pra se deixar naufragar.
.
Que me salve esse homem
com sua febre de fogo
que me prenda no espaço
de seu passo mais louco.
.
Bruna Lombardi
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sexta-feira, 14 de março de 2008

QUEBRAMOS OS DOIS

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Era eu a convencer-te que gostas de mim
e tu a convenceres-te que não é bem assim...]
Era eu a mostrar-te o meu lado mais puro
e tu a argumentares os teus inevitáveis
.
Eras tu a dançares em pleno dia
e eu encostado como quem não vê
Eras tu a falar para esconder a saudade
e eu a esconder-me do que não se dizia
... afinal quebramos os dois...
.
Desviando os olhos por sentir a verdade
juravas a certeza da mentira
mas sem queimar demais
sem querer extinguir o que já se sabia
.
Eu fugia do toque como do cheiro
por saber que era o fim da roupa vestida
que inventara no meio do escuro onde estava
por ver o desespero na cor que trazias...
... afinal quebramos os dois...
.
Era eu a despir-te do que era pequeno
e tu a puxares-me para um lado mais perto
onde contamos histórias que nos atam
ao silêncio dos lábios que nos mata...!
.
Eras tu a ficar por não saberes partir...
e eu a rezar para que desaparecesses...
Era eu a rezar para que ficasses...
e tu a ficares enquanto saías....
não nos tocamos enquanto saías.
não nos tocamos enquanto saímos.
não nos tocamos e vamos fugindo
porque quebramos como crianças
.
...afinal quebramos os dois...
.
...e é quase pecado o que se deixa......
quase pecado o que se ignora...
.
Toranja (Grupo musical português)
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quarta-feira, 12 de março de 2008

TU ERAS TAMBÉM UMA PEQUENA FOLHA

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Tu eras também uma pequena folha
que tremia no meu peito.
O vento da vida pôs-te ali.
A princípio não te vi: não soube
que ias comigo,até que as tuas raízes
atravessaram o meu peito,
se uniram aos fios do meu sangue,
falaram pela minha boca,
floresceram comigo.
.
Pablo Neruda
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terça-feira, 11 de março de 2008

ASSOMBROS

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Às vezes, pequenos grandes terremotos
ocorrem do lado esquerdo do meu peito.
.
Fora, não se dão conta os desatentos.
.
Entre a aorta e a omoplata rolam
alquebrados sentimentos.
.
Entre as vértebras e as costelas
há vários esmagamentos.
.
Os mais íntimos
já me viram remexendo escombros.
Em mim há algo imóvel e soterrado
em permanente assombro.
.
Affonso Romano de Sant'Anna
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segunda-feira, 10 de março de 2008

ÉS POESIA

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Não sei bem o que é poesia, mas para mim és tu
Nada é mais belo que o teu olhar quando me contemplas
Nenhuma rima pode ser mais perfeita do que a nossa união
Não há estrofe mais completa e simples que a nossa tão cumplice cumplicidade
Mesmo a prosa da tua ausencia no meu espaço é perfeita
Tão perfeita que te sinto a presença e o olhar enquanto durmo
e contemplo o mundo à minha volta
És pura poesia na minha vida
O verso que me encanta e que canto em silencio
Só meu e de mais ninguém.
.
Sofia
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...

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-Sentiu?
-Senti.
-Viveu?
-Vivi.
-Então onde deixou meu coração?
-...
.
Maria
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sábado, 1 de março de 2008

SUMIÇO

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Sumi porque só faço besteira em sua presença,
fico muda quando deveria verbalizar,
digo um absurdo atrás do outro quando
melhor seria silenciar,
faço brincadeiras de mau gosto e sofro antes,
durante e depois de te encontrar.
Sumi porque não há futuro e isso não é o mais difícil de lidar,
pior é não ter presente e o passado ser mais fluido que o ar.
Sumi porque não há o que se possa resgatar,
meu sumiço é
covarde mas atento, meio fajuto meio autêntico,
sumi porque
sumir é um jogo de paciência, ausentar-se é risco e sapiência,
pareço desinteressada,
mas sumi para estar para sempre do seu lado,
a saudade fará mais por nós dois
que nosso amor e sua desajeitada e irrefletida permanência.
.
Martha Medeiros
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