
A mulher madura é assim: 
tem algo de orquídea que brota 
exclusiva de um tronco, inteira.
Não é um canteiro de margaridas jovens 
tagarelando nas manhãs.
A adolescente, com o brilho de seus cabelos, 
com essa irradiação que vem dos dentes 
e dos olhos, nos extasia.
Mas a mulher madura tem 
um som de adágio em suas formas. 
E até no gozo ela soa 
com a profundidade de um violoncelo 
e a subtileza de um oboé sobre a campina do leito.
A boca da mulher madura tem uma indizível sabedoria. 
Ela chorou na madrugada 
e abriu-se em opaco espanto. 
Ela conheceu a traição 
e ela mesma saiu sozinha 
para se deixar invadir 
pela dimensão de outros corpos. 
Por isto as suas mãos são líricas no drama 
e repõem no seu corpo 
um aprendizado da macia paina de Setembro e Abril.
O corpo da mulher madura 
é um corpo que já tem história. 
inscrições se fizeram em sua superfície. 
Seu corpo não é como na adolescência 
uma pura e agreste possibilidade. 
Ela conhece seus mecanismos, 
apalpa suas mensagens, 
decodifica as ameaças 
numa intimidade respeitosa.
Sobretudo, 
o primeiro namorado 
ou o primeiro marido não sabem 
o que perderam em não esperá-la madurar. 
Ali está uma mulher madura, 
mais que nunca pronta para quem a souber amar.
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Affonso de Romano Sant'Anna
 
  
 
 
 









 
 



 
 
 
 
 
 
 
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