terça-feira, 26 de maio de 2009

MULHER MADURA


A mulher madura é assim:

tem algo de orquídea que brota

exclusiva de um tronco, inteira.

Não é um canteiro de margaridas jovens

tagarelando nas manhãs.

A adolescente, com o brilho de seus cabelos,

com essa irradiação que vem dos dentes

e dos olhos, nos extasia.

Mas a mulher madura tem

um som de adágio em suas formas.

E até no gozo ela soa

com a profundidade de um violoncelo

e a subtileza de um oboé sobre a campina do leito.

A boca da mulher madura tem uma indizível sabedoria.

Ela chorou na madrugada

e abriu-se em opaco espanto.

Ela conheceu a traição

e ela mesma saiu sozinha

para se deixar invadir

pela dimensão de outros corpos.

Por isto as suas mãos são líricas no drama

e repõem no seu corpo

um aprendizado da macia paina de Setembro e Abril.

O corpo da mulher madura

é um corpo que já tem história.

inscrições se fizeram em sua superfície.

Seu corpo não é como na adolescência

uma pura e agreste possibilidade.

Ela conhece seus mecanismos,

apalpa suas mensagens,

decodifica as ameaças

numa intimidade respeitosa.

Sobretudo,

o primeiro namorado

ou o primeiro marido não sabem

o que perderam em não esperá-la madurar.

Ali está uma mulher madura,

mais que nunca pronta para quem a souber amar.
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Affonso de Romano Sant'Anna


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