sexta-feira, 31 de julho de 2009

EU MINTO...

eu minto, confesso
me faço de boba, verdade
escondo a idade, me calo,
me sinto tão mal, um inferno
represento um papel, principal
sou mesmo uma atriz, infeliz
quem diz que eu não quero, eu consigo
viver por um triz, enlouqueço
te esqueço e te mato, te amo
atrás de um muro, qualquer
outro dia amanheço, de novo
e falo bobagens, pudera
não sou tão sensata, avisei
sem nada de mais, me despeço
.
Martha Medeiros


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quarta-feira, 29 de julho de 2009

PRIMEIRO FOI A NOITE


"No princípio criou Deus o céu e a terra. (Gênesis, 1:1)
.
Primeiro foi a noite. E a noite feita,
desta engendrou-se a luz, julgada boa.
Depois, fez-se o agudo desespero do céu.
.
E a terra. E as águas separadas.
E um mar se fez, da lúcida colheita
das águas inferiores. A coroa
tornou-se firmamento. "Haja luzeiros"
ordenou-se às estrelas debulhadas.
.
Houve flores estáticas e flores
que procuravam flores; e houve a fome
de carne e amor e dessa fome as dores
e das dores o Homem. Deste, esquiva,
toda fome, sua fêmea, e no seu sexo,
mais uma vez a noite primitiva.
.
Renata Pallottini

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segunda-feira, 27 de julho de 2009

INEBRIANTES NA DANÇA DO AMOR

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Minha mente é só desejo:
Minha boca clama pelo teu beijo,
Meu corpo pulsa pelo teu toque,
Meu ser estremece pelo teu olhar.
.
Eu sou,inteiramente,
lua,
nua,
tua.
.
Desejo acima de desejo
Corpo sustentando corpo
Alma comportando alma.
.
Tu
infinitamente
no meu
íntimo...
.
Nós dois
Inebriantes
Na dança do amor
A tocar
A sentir
A gozar
Na explosão do depois...
.
Ana C. Pozza

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sábado, 25 de julho de 2009

NO CONJUGAR AMOR


Descobrimos coisas
que ninguém mais sabe
.
Coisas diversas do saber comum.
.

A transfusão que existe no beijar
quando a ternura é líquida
.
E a transparência
opaca
do suor
quando o amor é feito
.
E o jeito que nos fica
de namorar o corpo
.
E o exagero em tudo que se diz
nas juras repetidas
.
Descobrimos coisas
que ninguém mais sabe
e que aprendemos juntos.
.
Manuela Amaral

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quarta-feira, 22 de julho de 2009

ÉS


És
O corpo que me desafia
A percorrer cada milímetro de pele
Sou
A gota que desliza
Te beija
E deseja
E se aloja nos teus sentidos
Fazendo-te teu
,
Sutra

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segunda-feira, 20 de julho de 2009

CADA VEZ A ÚLTIMA, CADA VEZ A PRIMEIRA


Como escrever paixão sem ser assim
Com o corpo nas palavras
Com os sentidos nos dedos
E os dedos sentindo
A paixão que fervilha dentro?
Como fazer amor sem ser assim
Como se cada vez fosse a última
E a última fosse a primeira
E o fogo ardesse dentro
Assim como arde na pele?
Como escrever amar sem ser assim?
Como escrever sem fazer amor?
Sem me entregar em cada poema
E dar-tos como me entrego
Incendiar as palavras
Como me incendeias o corpo
E arder no poema
Como ardo nos teus braços.
Como se cada poema fosse o último
E cada vez a primeira.
.
Encandescente

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sábado, 18 de julho de 2009

INTERVALO AMOROSO


O que fazer entre um orgasmo e outro,
quando se abre um intervalo
sem teu corpo?
.
Onde estou, quando não estou
no teu gozo incluída?
Sou toda exílio?
.
Que imperfeita forma de ser é essa
quando de ti sou apartada?
.
Que neutra forma toco
quando não toco teu corpo, coxas
e não recolho o sopro da vida de tua boca?
.
O que fazer entre um poema e outro
olhando a cama, a folha fria?
.

Affonso Romano de Sant'Anna
(adapt.)

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sexta-feira, 17 de julho de 2009

DANÇANDO NO TEU CORPO


Poderia dançar em teu corpo a toda a hora
conheço cada espasmo, cada movimento
cada vacilo, arrepio... estremecimento
Poderia dança-lo, rodopiá-lo mesmo agora
.
Poderia ser parte de ti pela vida fora
unir nossos corpos em cada filamento
nossos passos nao se trocam, sao seguimento
Nossa tarde nao anoitece, é sempre aurora
.
Cada beijo seria petala daquela rosa
que entre nossos lábios sempre se entrosa
e que em nossa boca sempre permanece
.
cada espinho seria uma lágrima preciosa
caída durante o beijo que eu te desse
por amor rolada e que jamais se esquece
.
Abílio B. Cardoso

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quarta-feira, 15 de julho de 2009

SE EU DE TI ME ESQUECER

Se eu de ti me esquecer, nem mais um riso
possam meus tristes lábios desprender;
para sempre abandone-me a esperança,
se eu de ti me esquecer.
.
Negue-me auras o ar, neguem-me os bosques
sombra amiga, em que possa adormecer,
não tenham para mim murmúrio as águas,
se eu de ti me esquecer.
.
Em minhas mãos em áspide se mude
no mesmo instante a flor, que eu for colher;
em fel a fonte a que chegar meus lábios,
se eu de ti me esquecer.
.
Em meu peregrinar jamais encontre
pobre albergue, onde possa me acolher;
por todos esquecido viva e morra,
se eu de ti me esquecer.
.
Se eu de ti me esquecer, nem uma lágrima
caia sobre o sepulcro, em que eu jazer;
de plaga em plaga, foragido vague,
se eu de ti me esquecer.
.
Bernardo Joaquim da Silva Guimarães
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segunda-feira, 13 de julho de 2009

ÀS VEZES TU ME HABITAS


Às vezes tu me habitas como ruídos a uma casa,
como marcas a um rosto que por elas se define
e te lembrar é voltar ao que há de mais meu em mim mesma,à parte de mim mesma
que me revela e me assombra.
.
Às vezes eu quase te esqueço,
quase te perco
e quase sou completamente triste
e quase sou completamente outra
sem a interrogação onipresente dos teus olhos,
sem a incompreensão cúmplice da tua voz.
.
Estás em mim e não há nada a fazer,
mesmo a meio da noite,
quando és um vazio cheio de pontas,
mesmo a meio da frase,
quando és um gole de ar no lugar do teu nome.
.
Tu és meu porque de ti sou feita
e negar-te a mim seria parir-me ao contrário.
.
Aceito assim meu ofício de habitar-me tu -
ainda que a mim nunca regresses,
mesmo que de mim jamais tenhas partido.
.
Ticcia

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domingo, 12 de julho de 2009

DESEJO DE MULHER


Quero um homem que me conheça,
Que me penetre, não só a carne,
Mas principalmente o coração,
Com força, vigor e paixão.
.
Quero que me devore e me beba,
Não só o gozo do sexo,
Mas o prazer de estar junto,
De ser cúmplice e complexo.
.
Que me prenda e me enrosque,
Não só os braços e pernas,
Mas a alma, com abraços e toques,
Que ultrapassem barreiras externas.
.
Quero que me jogue na cama
E me use, não como objeto,
Mas como a outra metade,
Indispensável para ser completo.
.
Que me faça arrepiar e arder,
Não só de desejo e loucura,
Mas da febre de possuir e poder
Compartilhar sua candura.
.
Que me tateie e percorra,
Que aprenda meus caminhos,
Me oferte sua intimidade,
Me sufoque de carinhos.
.
Que desvende meus segredos,
Não todos, senão perde o mistério
E a indefinição que dá medo,
Que atrai e tira do sério.
.
Não quero ser sua vadia, sua meretriz,
Mesmo de forma carinhosa, de paixão.
Porque ele não admite que sua voz
Profane a pureza de minha devassidão.
.
Não quero ser seu espelho e nem seu reflexo,
Porque ele não precisa ser orientado, nem de adulação.
Está comigo por afinidade e pele,
Por saudade e por satisfação.
.
Quer compartilhar meus momentos
Ao meu lado, sem mudar meu rumo jamais.
Quer ser amigo, meu porto seguro,
Mesmo que nunca venha a ser o cais.
.
Quero um homem que se mostre mortal
E felino, livre e escravo de meus olhos,
Atento e sincero, idoso e menino,
Rude e gentil ao dilatar os poros.
.
Quero um amante que me seduza,
Fúria e abrigo, calor e aconchego,
Dentes e lábios, pêlos e dedos,
A rolar na grama, a morder os seios.
.
Quero olhos e pálpebras piscando,
Gozo suado e mãos dadas,
Sexo e nexo, amada amando,
Liberdade e vidas atadas.
.
Lilian Maial

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sexta-feira, 10 de julho de 2009

UM SONHO LINDO


Deixe que meus olhos se fechem
E confiem um minuto nos teus
Olhe por mim, proteja meu sonho
Vigie meu descanso e me afaste de mágoas
Me envolva em teus braços e cuide,
Cuide um pouquinho de mim
Já não sou forte, preciso de apoio
Preciso do teu apoio, do teu abraço,
do teu sentido
E responda a quem perguntar:
"Ela agora está quietinha
Ela agora está comigo
Ela agora é toda minha
E decidiu descansar
Descansar no meu carinho
Adormecer no meu peito
Deixem a minha menina
Ela agora vai sonhar"
Vou sonhar com tua boca
Com tuas mãos, com teu beijo
Com teu corpo em minha pele
Com tudo que quero de ti
Vou me entregar neste sonho
E assim que despertar
Não quero ter nem saudade
Vou transportar todo ele
Para este nosso mundo
Vou fazer de um sonho lindo
A nossa realidade.
.
Teca
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quinta-feira, 9 de julho de 2009

ENLEVO



Eu olho você grande e distante
e da sua grandeza me comovo
e da sua distância me revolto.
Olho de novo.
Procuro reter em minhas mãos sua figura
mas ela gesticula, oscila e cresce
e numa inconstância distraída
no instante exato
por trás da vida desaparece.
Um desacato.
Do meu desaponto eu me levanto
pra levar embora outro desencanto
mas você me divisa e então me chama.
Me aguarda, reclama e me convida
e minha vida nessa ansiedade por fim entrego.
E nesse amor feito de espuma colorida
nós flutuamos: você borbulha, eu escorrego,
ensaboados, você explode, eu me desintegro.
.
Flora Figueiredo
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terça-feira, 7 de julho de 2009

PARTILHA


Fica com a cama.
Nela estão todos os meus perfumes
e também os meus melhores sorrisos.
(sob o travesseiro do lado direito talvez ainda o som daquela gargalhada).
Fica com os lençóis das nossas madrugadas
os cartões de crédito e todos os poemas.
O cobertor azul eu deixo porque ainda é inverno
(e eu estava acostumada a te aquecer).
As fotos também eu cedo, não as quero.

Não refletem os medos que tive, são apenas momentos
(congelados feito os projetos que adiamos)
As chaves do apartamento deixo sob o tapete.
O amor e os sonhos eu levo junto com o meu olhar encantado.
A dor está na caixa pesada que ficou no banheiro.

Não se preocupe,
é minha prometo vir buscar no feriado
(eu levaria hoje, se pudesse, mas no carro não cabia o mundo inteiro)
.
Nalu Nogueira

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domingo, 5 de julho de 2009

TENHO


Tenho-te em tuas umidades,
no calor do teu abraço
e nas gotas de suor
que se espalham pelo teu corpo.
.
Tenho-te em tua pele lisa,
teus cabelos colados,
teus pêlos grudados,
]eu visgo, tuas águas,
teus caminhos de charcos,
os pequenos rios no teu pescoço,
o sabor salgado do lóbulo da tua orelha,
tua testa brilhante,
tuas narinas abertas, tuas pupilas dilatadas.
.
Tenho-te em alta temperatura misturad
ao a mim, confundido em líquidos e sumos,
sede e fonte,
mar em onda,
céu de chuva.
.
Tenho-te emaranhado e deslizante,
em vapor e respingos,
em poros abertos,
em cheiro de bicho,
em cio de gente.
.
Tenho-te na língua que colhe o gosto,
nos lábios que escorregam,
na boca que dança lúbrica
por frestas molhadas
e se embriaga de essências profundas,
de perfumes e cansaços.
.
Tenho-me docemente embebida por ti.
.
Ticcia


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sexta-feira, 3 de julho de 2009

OS MEUS VERSOS


Leste os meus versos? Leste? E adivinhaste
O encanto supremo que os ditou?
Acaso, quando os leste, imaginaste
Que era o teu esse olhar que os inspirou?
.
Adivinhaste? Eu não posso acreditar
Que adivinhasses, vês? E até, sorrindo,
Tu disseste para ti: “Por um olhar
Somente, embora fosse assim tão lindo,
.
Ficar amando um homem!... Que loucura!”
- Pois foi o teu olhar; a noite escura,
- (Eu só a ti digo, e muito a medo...)
.
Que inspirou esses versos! Teu olhar
Que eu trago dentro d’alma a soluçar!
.............................................................
Ai não descubras nunca o meu segredo!
.
Florbela Espanca
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quarta-feira, 1 de julho de 2009

O AVESSO DO DESEJO


te encontraria no deserto
às dez e meia
tonto de luz
passos trôpegos
sobre a areia movediça
eu te desnudaria
meio-dia
sol a pino
e te manteria prisioneiro
até que tingisse
a tua pele o mais negro ou rubro tom
e cegasse os teus olhos o sol da tarde.
te abandonaria então
nu e insone
meio às sombras sem sonhos
onde te escondias
das noites quentes de antigos janeiros
por fim partiria
liberta de ti
e do cárcere gelado
dos interditados verões
do teu amor desejo ao avesso
ainda pulsando em mim
.
Márcia Maia
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