sábado, 31 de outubro de 2009

SE EU TE AMO

Se eu te amo no tapete da sala,
e estrelas escorrem desse céu de veludo,
é que desnudo está o meu corpo
sob o teu,
você é a noite.
Se eu te amo na poesia
que as tuas mãos desenham,
e fortes se empenham
na alforria das palavras,
é que desnudo está o meu ouvido
na euforia dos teus encantos,
eu sou o poema.
Se eu te amo no gemido,
do fonema em mim despido,
você é a canção.
Se eu te amo e nunca lhe disse,
me faço nua,nessa minha (re)"leitura"
.
Luciane


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segunda-feira, 26 de outubro de 2009

SEMPRE, DE VEZ EM QUANDO


Toda vez que amanheço
de porre, sem ter bebido,
é prenuncio de tempestades.
Os calos não doem
com a mudança do tempo,
mas meu coração dispara
e o olfato fica mais aguçado
que faro de perdigueiro.
Nestas horas,
não adianta ninguém me dizer
que "viver é experimentar",
porque o máximo que eu consigo
é avaliar as avarias
causadas pelos arpões.
.
Leila Míccolis

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sábado, 24 de outubro de 2009

SOLIDÃO


Ando as tantas inventando novas viagens.
Cansei de olhar ao redor e não enxergar.
Dias atrás estive não sei onde.
E lá aonde tudo era perfeito pari outra.
Agora ela persegue os meus mundos
Estou voltando para o enigmático deserto.
Lá os crimes são perfeitos: pó a pó.
Basta de fantasias, ela que se afogue areia.
Sou medusa dos meus próprios reinos.

Eliane Alcântara.


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quinta-feira, 22 de outubro de 2009

POEMA DE AMOR



Al perderte yo a ti tú y yo hemos perdido:
yo porque tú eras lo que yo más amaba
y tú porque yo era el que te amaba más.
Pero de nosotros dos tú pierdes más que yo:
porque yo podré amar a otras como te amaba a ti
pero a ti no te amarán como te amaba yo.
.
Ernesto Cardenal

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Ao perder-te eu a ti tu e eu teremos perdido.
Eu, porque tu eras o que eu mais amava;
tu, porque era eu que te amava mais.
Mas, de nós dois tu perdes mais do que eu.
Porque eu poderei amar a outras como amava a ti,
Mas a ti não te amarão mais do que te amava eu!
.
Ernesto Cardenal

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terça-feira, 20 de outubro de 2009

BOCA


Boca é entrada,
Chave de todos os recatos.
Do gosto, no rosto, de todos os sabores.
Do medo, no seio, de todos os pudores.
Do vício, no cio, de todos os pecados.
.
Boca é surpresa,
Caixa mágica de todos os delírios.
Do arrepio, no toque, das carnes trêmulas.
Do desafio, no começo, dos recantos escondidos.
Da procura, no escuro, de todos os resquícios.
.
Boca é jazigo,
Túmulo inviolável das individualidades.
Do selo, na saliva, dos fluidos pessoais.
Do lacre, na mordida, das marcas digitais.
Do sacro, na súplica, da saciedade.
.
Boca é sedução,
É a fonte de todos os desejos.
Do sexo, animal, de dentes afiados.
Da carne, sensual, de ventres inflamados.
Do amor, integral, que revive a cada beijo.
.
Lilian Maial

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segunda-feira, 12 de outubro de 2009

GUARDO AS LÁGRIMAS


Guardo as lágrimas para uma ocasião especial.
Prefiro a revolta sólida
À tristeza líquida visível a quem me olha.
Prefiro-me zangada
A passivamente lavada em lágrimas e em auto-comiseração.
Se sobrevivi
Foi porque quando magoada não chorei
Porque de tão quente que era a dor me secou as lágrimas
E queimou os olhos
Quando derrubada não me lamentei
Mas da dor fiz músculo, revolta, força
E de mim me ergui
E a mim me levantei.
Guardo as lágrimas para uma ocasião especial
Como quem guarda um segredo vergonhoso
Não um bem precioso.
E enfrento o mundo de olhos secos
Desafiando a vida, puta predadora,
A conseguir fazer-me chorar.
.
Encandescente

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quarta-feira, 7 de outubro de 2009

MAL SECRETO

Se a cólera que espuma, a dor que mora
N’alma, e destrói cada ilusão que nasce,
Tudo o que punge, tudo o que devora
O coração, no rosto se estampasse;
.
Se se pudesse o espírito que chora
Ver através da máscara da face,
Quanta gente, talvez, que inveja agora
Nos causa, então piedade nos causasse!
.
Quanta gente que ri, talvez, consigo

Guarda um atroz, recôndito inimigo,
Como invisível chaga cancerosa!
.

Quanta gente que ri, talvez existe,
Cuja a ventura única consiste
Em parecer aos outros venturosa!
.
Raimundo Correa

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sexta-feira, 2 de outubro de 2009

APELO

que ninguém me cuide se eu cair doente
deixem-me verter em febre os males que me afligem
em suor e sangue transbordar as amarguras
deixem-me pender exangüe sobre a cama fria
em tremores expulsar minhas loucuras
.
que ninguém me acuda se eu cair doente

não. apenas me deixem viver meus delírios
sozinha para que eu conheça as minhas dores
em paz para reviver os meus amores
nesse estranho jardim meu de pedra e sonho.
.
que ninguém me ajude se eu cair doente

deixem-me só com meu esgar medonho
deixem-me à sós com minha agonia
não quero o consolo de mãos sobre as minhas
não quero distrair-me tendo que esforçar-me
.
que ninguém me salve se eu cair doente

deixem-me em paz para que eu viva ou morra
deixem-me só, pois é minha a escolha
morte ou vida pedra ou sonho
(ou meu esgar medonho
ou meu sorriso livre)
ou quem sabe a paz que nunca tive.
.
Nalu Nogueira




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