domingo, 31 de maio de 2009

FEBRE,40


Pura? Como assim?
As línguas do inferno
São sujas, sujas como as três
.
Línguas do sujo e gordo Cérbero
Que arfa ao portão.
Incapaz
De lamber e limpar
.
O membro em febre, o pecado, o pecado.
A chama chora.
O cheiro inconfundível
De um toco de vela!
Amor, amor, a fumaça escapa de mim
Como a écharpe de Isadora, e temo
.
Que uma das pontas ancore-se na roda.
Uma fumaça amarela e lenta assim
faz de si seu elemento. Não vai subir,
.
Mas envolver o globo
Sufocando o velho e o oprimido,
O frágil
.
Bebê em seu berço,
Orquídea pálida
Suspensa em seu jardim suspenso no ar,
.
Leopardo diabólico!
A radiação o embarque
E o mata em uma hora.
.
Engordurando os corpos dos adúlteros
Como as cinzas de Hiroshima que os devora.
O pecado. O pecado.
.
Meu bem, passei a noite
Me virando, indo e vindo, indo e vindo,
Os lençóis me oprimindo como o beijo de um devasso.
.
Três dias. Três noites.
Limonada, canja
Aguarda, água me deixe enjoada.
.
Sou pura demais pra você ou pra qualquer um.
Seu corpo
Me ofende como o mundo ofende Deus.
Sou uma lanterna
.
Minha cabeça uma lua
De papel japonês, minha pele folheada a ouro
Infinitamente delicada e infinitamente cara.
.
Meu calor não te assusta.Nem minha luz.
Sou uma camélia imensa.
Que oscila e jorra e brilha, gozo a gozo.
.
Acho que estou chegando,
Acho que posso levantar
Contas de metal ardente voam, e eu, amor, eu
.
Sou uma virgem pura
De acetileno
Cercada de rosas,
.
De beijos, de querubins,
Ou do que sejam essas coisas róseas.
Não você, nem ele,
.
Não ele, nem ele
(Eu me dissolvo toda, anágua de puta velha)
Ao Paraíso
.
Sylvia Plath


Photobucket

Um comentário:

Branca disse...

Passa no meu blog pois tenho selinhos pra vc.

bjos